CARTA DE UM JOVEM EM DESESPERO

Hoje acordei ao som de gritos. Levanto-me e peço-lhes que por favor parem de discutir. Percebo que sou quase invisível, que as minhas palavras não se fazem ouvir. Baixo a cabeça, enfio uns ténis e saio a correr.

Tenho 21 anos e sou órfão de pais vivos. Minha mãe é professora e o meu pai empresário. Trabalham muito. Sempre trabalharam muito!! Acredito que sempre trabalharam muito, para que eu possa SER alguém. Alguém, que nos dias bons, viam 60 minutos por dia. Trabalhavam muito para pagar a minha escola, as minhas dezenas de atividades e todos os desejos mais incríveis que eu pudesse ter.

Recordo com muita tristeza aquele menino de 5 anos, que todos os dias se deitava a chorar, pois precisava de um abraço, de brincar com o pai, de ouvir lindas histórias da mãe. Mas não podia ser, pois tinham que trabalhar.

Cresci, num ambiente de gritos, de culpa, de tristeza e muita dor. Cresci com a certeza que a vida era assim! E assim me tornei! Um adolescente arrogante, revoltado e com a convicção que os meus pais tinham que me sustentar! Que os meus desejos eram ordens!

Mas, apraz-me questionar: Será que a culpa de eu me tornar nesta pessoa é minha? Será que esta vontade de pôr termo à minha vida é minha? Melhor ainda, será que fomos nós jovens que destruímos este planeta? Será que a falta de oportunidade de emprego é nossa?

Hoje, com 21 anos e depois de muita terapia, eu olho para trás e percebo que a única coisa que eu verdadeiramente precisava era de amor! E não havia dinheiro nenhum que pagasse esse amor.

A vocês adultos, a vocês pais, peço que meditem bem antes de ter um filho! Pois, a missão que vos é dada, é de dar a mão e mostrar o caminho, não de nos entregarem a outros, não de nos abandonarem. Pensem sempre duas vezes, antes de escreverem nas redes sociais, que os jovens não prestam, não sabem fazer nada, não trabalham, não leem, não sabem manter relacionamentos e mais uns nãos que tanto se ouvem por aí. Lembrem-se bem, que foram vocês que nos educaram, que nos mostraram o caminho.

Eu, tive a sorte de alguém me dar a mão, me orientar e me mostrar que sou importante! Hoje, olho para os meus pais e perdoo, pois sei que eles nem imaginam o mal que me fizeram.

A vocês jovens, digo-vos o mesmo: a vida é muito bonita, vocês são muito importantes! Não permitam que vos digam o contrário. Conversem com os vossos pais e digam-lhes que precisam deles.

Miguel

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