O virus e o sentimento de culpa – Uma linda história de amor

Tantas são as histórias da pandemia. Umas com um final feliz, outras com um final triste e outras ainda com um misto de aceitação, tristeza e sentimento de culpa. Hoje vou contar-te uma história que partilharam comigo.

“Hoje acordei com dores no corpo e com alguma tosse. Quando medi a febre estava com 38,5.

– Posso estar simplesmente constipada- pensei. Mas o medo de estar infetada com covid não me saía da cabeça. O meu bom senso venceu e no dia seguinte decidi fazer o teste. Quando li o resultado o meu coração disparou no peito … positivo! Pensei na minha mãe que vivia comigo, com os seus 86 anos, um problema cardíaco e as minhas duas filhas ainda menores. Toda a minha casa foi desinfetada, desde louça à roupa e de imediato fiquei sozinha de quarentena no meu quarto. As minhas filhas deixavam a comida na entrada do quarto, em pratos e copos de plástico que no final da refeição colocava de imediato num saco preto bem fechado. Tudo o que entrava naquele quarto já não saía. Ao terceiro dia de quarentena soube que a minha mãe e as minhas filhas estavam também infetadas e todo o meu mundo desabou. Sabia que a partir do momento em que a minha mãe desse entrada no hospital nenhuma de nós a voltaria a ver e que iria morrer sozinha. Pedi apoio médico em casa, cuidei da minha mãe com muito amor durante duas semanas e abracei-a na hora da despedida.

Não permiti que a minha mãe fosse internada, que ficasse com o sentimento de abandono no hospital. No meu coração eu sentia que era o melhor a fazer, mas a minha mente estava sempre a dizer-me, leva-a para o hospital! Não levei e muitas vezes acordei com sentimento de culpa.

Passou 1 mês em que dei um ultimo abraço à minha mãe e no meu coração sei que fiz o melhor, pois sei que não gostaria de morrer sozinha. Mas será que poderia ter feito de outra forma? Hoje, não tenho qualquer sentimento de culpa pela minha decisão e agradeço a Deus a oportunidade de a minha mãe ter a mão das netas e a minha junto ao seu coração no seu ultimo suspiro.”

Muito obrigada “Maria” pelo teu lindo testemunho de Amor!

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